talvez.

Talvez seja o café que, frio dentro da caneca, siga sendo mexido mecanicamente. Talvez sejam os ladrilhos que, amarelados pelo tempo, ainda ecoam cenas de outrora. Talvez seja o cão que, esparramado no capacho da porta de entrada, nem pensa em levantar.

Talvez seja a música que toca abafada no rádio mal sintonizado. Talvez seja o enorme ônibus passando que abafe a canção ruidosa. Talvez seja o avião ainda maior e mais ruidoso cruzando as nuvens para abafar o ônibus, a música e os pensamentos.

Talvez sejam as fotos espalhadas pela sala. Talvez seja o espaço encolhido dentro do armário. Talvez seja a geladeira vazia, a caixa de e-mails cheia, o mercado não feito, a cama metade feita-metade desfeita.

Talvez seja a escova que sobra em cima da pia. Talvez seja o espaço que abunda na garagem. Talvez seja o despertador que tocava antes, o som de chuveiro que vinha depois, o silêncio seco que veio agora.

Ou talvez seja só a falta dela. Talvez.

você.

Olho para a mesa e ali está você.

Apoio o braço do lado direito da cama e você também está.

Divido o espaço do sofá contigo, converso horas com você dentro do carro e correr nas manhãs frias ficou melhor ao seu lado. Fazer mercado ficou mais leve, voar de avião já não é tão assustador e até fazer o imposto de renda – embora eu ainda não me renda – já é quase divertido.

Quando tenho um dia difícil, é você quem me abraça. Quando ele é incrível, celebro contigo. E mesmo quando nada acontece, o simples fato de te encontrar já é um evento – e eu voo pra casa feito o próprio vento.

Não sei o seu nome. Nunca vi o seu rosto. Nem sequer nos conhecemos e eu já te quero dentro do bolso. Porque sei que, seja lá quem for, já você está aqui comigo. E embora sozinho, já tenho um amor.

encaixe perfeito.

Ela já estava impaciente com tanta demora.

Sabia que havia chegado cedo, sabia que iria ter que esperar paciente, mas não se conformava com tanta espera.

A verdade é que ele é cuca fresca, sempre foi. Típico de quem vem do interior.

Ela só esperava que, sabendo que aquele ambiente não era o mais propício para que ela ficasse sozinha, ele fosse finalmente se tocar e chegar um pouco antes.

Mas sabe como são essas coisas: ele é frio, ela é esquentadinha.

E, de cabeça quente, ela ficou esperando por horas. Sozinha, exposta, indisposta.

Ficou porque não vivia sem ele. Ficou porque, em bem da verdade, já estava frita.

Foi então que, do nada, ele chegou.

E todo o boteco sorriu ao ver a coxinha e o caldo de cana juntos novamente.